quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"Os quatro estágios do perdão"

"1. Deixar passar - deixar a questão em paz
2. Controlar-se _ renunciar `punição
3. Esquecer - afastar da memória, recusar-se a repicar
4. Perdoar - o abandono da dívida

1. DEIXAR PASSAR
Para se começar a perdoar, é bom deixar passar algum tempo. Ou seja, é bom deixar de pensar provisoriamente na pessoa ou no acontecimento. Não se trata de deixar algo por fazer, mas assemelha-se a tirar umas férias do assunto. Isso ajuda a evitar que fiquemos exaustas, permite que nos fortaleçemos por outros meios, que tenhamos outras alegrias na vida.
Esse estágio é um bom treino para o abandono definitivo que mais adiante advirá do perdão. Deixe a situação, a recordação, o assunto, tantas vezes quantas for necessário. A ideia não é fechar os olhos, mas de adquirir agilidade e força para se desligar da questão. Deixar passar envolve voltar a tecer, a escrever, ir atéo mar, aprender a amar algo que fortaleça e deixar que o tema saia do primeiro plano por um tempo. Isso é bom e medicinal. As questões de danos passados irão atormentr a mulher muito menos se ela garantir à pisique ferida que lhe aplicará bálsamos medicinais agora e mais tarde tratará do assunto de quem provocou tal ferida.

2. CONTROLAR-SE
A segunda fase é a do controle, especificamente no sentido de abster-se de punir; de não pensar no fato nem reagir a ele seja em termos grandes, seja em termos pequenos. É de extrema utilidade a prática desse tipo de refreamento, pois ele aglutina a questão num único ponto, em vez de permitir que ela se espalhe por toda a parte. essa atitude concentra a atenção para a hor em que a pessoa se dirigir aos próximos passos. Ela não quer dizer que a pessoa deva ficar cega, entorpecida ou que perca a sua vigilância protetora. Ela pretende conferir um prazo à situação para ver como isso ajuda.
Controlar-se significa ter paciência, resistir, canalizar a emoção. Esses são medicamentos poderosos. Faça tanto quanto puder. Esse é um regime de purificação. Você não precisa fazer tudo; você pode escolher um aspecto, como o da paciência, e praticá-lo. Você pode abster de palavras, de resmungos punitivos, de agir de modo hostil, ressentido. Ao evitar punição desnecessárias, você estará reforçando a integridade da alma e da ação. Controlar-se é praticar a generosidade, permitindo, assim, que a grande natureza compassiva participe de questões que anteriormente geravam emoções que iam desde a ínfima irritação até a fúria.

3. ESQUECER
Esquecer significa afastar da lembrança,recusar-se a repisar um assunto - em outras palavras, deixar de lado, soltar, especialmente da memória. Esquecer não quer dizer entorpecer o cérebro. O esquecimento consciente consiste em deixar de lado o acontecimento,não insistir para que ele permaneça no primeiro plano, mas permitir que ele seja rlegado ao plano de fundo ou mesmo que saia do palco.
Praticamos o esquecimento consciente quando nos recusamos a invocar o material inflamável, quando nos recusamos a mergulhara em recordações. Esquecer é uma atividade, não uma atitude passiva.Significa não trazer certos materiais até a superfície, revirá-los constantemente, nem se irritar com pensamentos, imagens ou emoções repetitivas. O esquecimento consciente significa a determinação de abandonarar a prática obcessiva, de ultrapassar a situação e perdê-la da vista, sem olhar pra trás, vivendo, portanto, numa nova paissagem, criando vida e experiências novas em que pensar no lugar das antigas. Esse tipo de esquecimento não apaga a memória; ele simplesmente enterra emoções que cercavam a memória.

4. PERDOAR
Existem muitos meios e proporções com os quais se perdoa uma pessoa, uma comunidade, uma nação por ofensa. É importante lembrar que um perdão "final" não é uma capitulação. É uma decisão consciente de dixar de abrigar ressentimento, o que inclui o perdão da ofensa e a desistência da determinação de retaliar. É você quem resolve quando perdoar e o ritual a ser usado para assinalar esse evento. É você quem resolve qual é a dívida que você agora afirma não precisar ser paga.
Algumas pessoas optam pelo perdão total: liberando a pessoa de qualquer tipo de reparação para sempre. Outras preferem interromper a reparação no meio, abandonando a dívida, alegando que o que está feito está feito e que a compensação já é suficiente. Outro tipo de perdão consiste em isentar a pessoa sem que ela tenha feito qualquer reparação emocional ou de outra natureza.
Para certas pessoas, finalizar o perdão significa considerar o outro com indulgência, e isso é mais fácil quando as ofensas são relativamente leves. Uma das formas mais profundas de perdão está em dar ajuda compassiva ao ofensor por um ou outro meio. Isso não quer dizer que você deva enfiar a cabeça no ninho da cobra, mas, sim, ser sensível a partir de uma postura de compaixão, segurança e preparo.
O perdão é onde vão culminar toda a abstenção, o controle e o esquecimento.Não significa abdicar da própria proteção, mas da própria frieza. Uma forma profunda de perdão consiste em deixar de excluir o outro, o que significa deixar de mantê-lo à distância, de ignorá-lo, de agir com frieza, condescendência e falsidade. É melhor para a psique da alma restringir ao máximo o tempo de exposição às pessoas que são difíceis para você do que agir como um robô insensível.
O perdão é um ato de criação. Você pode perdoar escolher entre muitas formas de proceder. Você pode perdoar por enquanto, perdoar até que, perdoar até a próxima vez, perdoar mas não dar outra chance - começa tudo de novo se acontecer outro incidente. Você pode dar só mais uma chance, dar mais algumas chances, dar muitas chances, dar chances só se... Você pode perdoar uma ofensa em parte, pela metade ou totalmente. Você pode imaginar um perdão abrangente Você decide.
Como a mulher sabe que perdoou? Você passa a sentir tristeza a respeito da circusntância, em vez de raiva. Você passa a sentir pena da pessoa em vez de irritação. Você passa a não se lembrar de mais n da a dizer a respeito daquilo tudo. Você compreende o sofrimento que provocou a ofensa. Você prefere se manter fora daquele meio. Você não espera por nada. Você não quer nada. Não há no seu tornozelo nenhuma armadilha de laço que se estende desde lá longe até aqui. Você está livre pra ir e vir. Pode ser que tudo não tenha acabado em "viveram felizes para sempre", mas sem a menor dúvida existe de hoje em diante um novo "Era uma vez" à sua espera. "
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Fragmento extraído do livro: "MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS" - Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem - de Clarissa Pinkola Estés - Ed. Rocco.

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